"O jornal Diário de Natal de 10-05-2009, traz uma matéria na folha 64, na qual pretende expor as vantagens que teria Natal, caso viesse a participar da Copa 2014, por meio de frágil e inadequada tentativa de nivelar a relativa importância de jogos de futebol, com o incomparável significado do calendário cristão que divide o mundo ocidental em épocas antes ou depois de Cristo; por ser obvio demais, o trocadilho, se assim pode ser chamado, como propaganda subliminar, não teria sido aprovado por Joseph Goebbels em sua apologia da mentira.
O Governo já vinha aplicando esse anestésico desde fins do ano passado, tentando desviar as atenções para o fato de ter mandado uma comissão de Secretários de Estado e do Município, da qual fez parte o signatário, como convidado, inocente útil, no sentido de expor em seminário patrocinado pela CBF, um estudo preliminar de adaptação do estádio Machadão às exigências requeridas pela FIFA.
Ao mesmo tempo, sub-repticiamente teria sido contratada sem qualquer procedimento licitatório, uma empresa de consultoria, a qual recebeu a generosa importância de R$3,6 milhões por um projeto faraônico que resultaria em sacrificar todo o patrimônio público denominado Complexo do Machadão, patrimônio de alto valor, não só no sentido material, mas sobretudo, por seu conteúdo histórico, cultural, arquitetônico, emocional e funcional.
Quer dizer que Natal só sairá do seu atraso, do seu estado crônico de calamidade pública, se sediar 2 jogos inexpressivos de uma copa do mundo, ficando refém por 30 anos de um “generoso parceiro” que vem aqui para nos tirar da pobreza e fazer-nos ricos junto com eles?
Será que São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, cidades que efetivamente irão participar da verdadeira festa, vão demolir seus estádios, por sinal, mais antigos do que nosso Machadão? Observe-se o que disse a revista VEJA de 18-03-09 folha 60: O coordenador da comissão paulista para a Copa de 2014, Caio Carvalho, perdeu a paciência com a cartolagem do estado, que tenta convencê-lo a patrocinar a construção de um novo estádio em São Paulo.”São pressões escusas para que se derrame dinheiro público”, denuncia.
Carvalho garante que o governo não porá um tostão no projeto. “Se surgir algum investidor privado com 500 milhões de reais em dinheiro limpo para gastar em um estádio, será bem-vindo”,diz. Caso contrário, a única opção que a capital paulista tem a oferecer é o Morumbi – ainda que essa decisão implique perder a abertura da Copa para outra cidade. (grifos nossos). Isso em São Paulo, cidade rica, dotada de personalidade e auto-estima, com caráter capaz de rechaçar propostas danosas e indecorosas.
Todo mundo quer ver a Copa aqui em Natal, mas isto não passará de uma semana de carnaval, com muito holofote nas telas do mundo inteiro, sem dúvida muito bom para o turismo, mas, depois, vem a “quarta-feira de cinzas” e volta tudo ao normal: pelo preço que estão impondo, nãovale a pena, e, se o parceiro se quebrar, correremos o risco de ficar a chorar sobre as ruínas do que já foi nosso, e a vermos a cidade despencar no calendário Gregoriano da era (d.C) para a Idade da Pedra.
Depois que a Promotoria de Defesa do Patrimônio abriu um processo de investigação, os demolidores silenciaram por alguns dias, mas agora, que falta pouco para chegar, ou não, a ordem de execução da sentença de extermínio, é tudo ou nada, tome falácias nos moldes do terceiro Reich.
Alegam que a empresa contratada de forma suspeita (em princípio todo contrato em descompasso com a lei 8666/93, é, no mínimo, amoral) é norte-americana, maior escritório no gênero em seu país, que tem como um dos seus principais troféus a reconstrução de Wembley, segundo o Governo, tido como o templo do futebol mundial.
Em primeiro lugar, o fato de ser norte-americana, a empresa contratada não está imune ao cumprimento das leis brasileiras;
Segundo: Wembley não é nenhum templo do futebol mundial, é apenas um estádio igual a tantos outros não se constituindo em nenhuma obra singular, embora dotado de virtudes e inovações tecnológicas apreciáveis.
Terceiro: essa exaltação exacerbada ao que vem de fora, ou é o velho complexo de vira-latas, como diria Nelson Rodrigues, ou excesso de “hospitalidade”.
Quarto: como explicar que um governo que se diz inovador e progressista interessado em trabalho e renda para todos, discrimina e fecha as portas para os profissionais de arquitetura e engenharia locais, muitas vezes melhores que o produto alienígena.
Quanto à decantada viabilidade econômica do mega-negócio garantindo o mínimo de recursos públicos a serem investidos, é mais um engodo, se levarmos em conta entrevista do Secretario de Turismo e presidente do Comitê Oficial quando diz que o Estado permitirá a demolição do seu Centro Administrativo, dará 29 hectares de presente no coração da cidade para o parceiro construir um mega-complexo imobiliário, como compensação o Estado receberá um novo Centro Administrativo, mas, pasmem, vai pagar aluguel durante 30 anos, pelo uso daquilo que o Estado tinha de graça; autêntico Cavalo de Tróia. No fim, seria o erário levado a pagar a conta toda e o generoso parceiro a ficar com o lucro se não fosse tudo uma fantasia.
O mesmo deveria acontecer em relação ao patrimônio Municipal, perderia o Machadão e o Ginásio Humberto Nesi, doaria um terreno de 17 hectares no ponto mais valorizado da cidade, e, pela mesma linha de raciocínio, receberia um Centro Administrativo, mas pagaria aluguel por 30 anos: outro presente de grego.
Aliás, diga-se de passagem, o futebol local está sendo propositadamente boicotado, até como argumento para justificar a demolição do Machadão, (leia-se a coluna de Marcos Lopes na Tribuna do Norte, na mesma data de 10-05-2009), e informo ainda que existem recursos disponíveis na Caixa Econômica há muito tempo, para importantes melhoramentos no Machadão e no Ginásio Humberto Nesi, com licitação ocorrida há quatro meses, sendo vencedora a empresa Proseng, mas com a Ordem de Serviço aguardando decisão do Poderoso Chefão da CBF; a série B já começou, o estádio deverá ser interditado, e a verba deverá ser devolvida, cabendo ainda à SEL ressarcir à empresa contratada pelo calote.
Me admiro que o América, maior prejudicado nesta “lambança” não tenha ainda tentado uma solução. E ainda, com toda essa incompetência, querem bancar participação em uma Copa do Mundo, prometendo transformar Natal num paraíso.
O menosprezo que essa gente tem pelos seus súditos chega ao paroxismo. Estão realmente convencidos que Natal é uma aldeia de índios ingênuos que se deixam conquistar por espelhos e outras bugigangas.
O menosprezo que essa gente tem pelos seus súditos chega ao paroxismo. Estão realmente convencidos que Natal é uma aldeia de índios ingênuos que se deixam conquistar por espelhos e outras bugigangas.
As audiências publicas que certamente ocorrerão, com a presença de todos os cidadãos, principalmente engenheiros, arquitetos,advogados, geólogos, ambientalistas, alunos e professores das universidades e respectivas instituições representativas, conselhos, poderes legislativos e executivos, alem das defensorias públicas e da imprensa, mostrarão bem claramente o que verdadeiramente está por trás de tudo isso."
Natal, 11-05-2009,
Moacyr Gomes da Costa
Arquiteto – 7473 D – CREA RJReg. Nacional
N° 200288655-5
Fonte: Blog do Romeu Dantas
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